Guia de Visitação ao Cemitério Municial São Francisco de Paula

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Guia de Visitação ao Cemitério Municial São Francisco de Paula

A vida é o rascunho de histórias que se propagam pela eternidade.

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Cemitério Municipal São Francisco de Paula

Fundado em 1° de dezembro de 1854, o cemitério mais antigo e
tradicional de Curitiba reúne um vasto acervo de esculturas,
manifestações artísticas e história da sociedade, política e economia
paranaenses.

Nele, há um mundo inteiro a ser descoberto.
Bom passeio.

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O espaço é limitado, mas as emoções são infinitas.

Área total: 51.414 m².

139 quadras

5.792 concessões

75.158 sepultamentos

Esse número representa os sepultamentos
realizados a partir 1o de janeiro de 1883, quando o
livro de registro, que contava então com 4.159
sepultamentos, foi zerado. Portanto, o número
absoluto de inumações ocorridas desde a abertura
do cemitério até o início de 2014 é de 79.317.

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Construído para os ideais higienistas

A necessidade da abertura de um cemitério extramuros em Curitiba tevem seu primeiro registro na Câmara Municipal, em 12 de setembro 1829. A discussão começara em função de uma nova epidemia, mas até que a obra fosse realmente concretizada, se passaram 25 anos.

É provável que a discussão sobre o cemitério não tenha vindo antes à tona pelo fato de a cidade já contar com o cemitério Sítio do Mato desde 1815, mais conhecido como cemitério dos bexiguentos, aberto para receber as vítimas de uma epidemia de varíola que assolou a cidade.

Com a emancipação do estado, em 1853, era necessário adequar as formas de enterramento aos ideais higienistas vigentes na época, e que previam a proibição dos enterros nas igrejas e a construção de cemitérios fora do perímetro urbano, em locais altos e arejados.

O presidente da província, Zacarias de Góes e Vasconcellos, nomeou o cidadão Benedito Enéas de Paula, em junho de 1854, como encarregado da obra de construção do cemitério, localizado no terreno doado pelo Padre Agostinho Machado de Lima.

Assim, finalmente, em 1º de dezembro de 1854, Zacarias de Góes e Vasconcellos inaugurou o Cemitério Municipal de Curitiba, que no ano seguinte passou a receber sepultamentos.

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Um verdadeiro museu a céu aberto, feito para os vivos.

Como necrópoles, os cemitérios ao contrário de serem feitos para os mortos, são, sobretudo, feitos
para os vivos, espelhando as cidades que os produzem.

Reproduzindo a sociedade global em sua topografia, como um mapa reproduz um relevo ou uma
paisagem, segundo Phillippe Ariès, o cemitério reúne a todos em um mesmo recinto.

Para o autor, família real, eclesiásticos, assim como categorias de distinção conforme o nascimento,
ricos e pobres, ocupam cada um seu lugar devido, já que a finalidade do cemitério é representar um
resumo simbólico da sociedade.

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A capela que também virou história

A capela que também virou história.

Em 1881, surgiu a necessidade de construir uma capela no Cemitério Municipal para realização dos funerais e missas. O projeto da planta e orçamento para a construção ficou sob responsabilidade do engenheiro Gottlieb Wieland.

Mas, ainda em 1897, a obra não havia sido concluída.

Julião Becker, construtor, foi contratado pela prefeitura em 1898 para finalizar a obra, enquanto o Monsenhor Alberto Gonçalves se comprometeu a fornecer gratuitamente os paramentos.

Infelizmente não existem registros que possam atestar em que ano a obra foi concluída. Em uma aérea foto de 1920, é possível visualizar a capela já construída. Mas, como tudo na vida, essa construção também teve um fim.

Segundo Cassiana Carollo, a capela foi demolida entre os anos de 1955 e 1956, para dar espaço a um largo. Na época, uma capela precária foi construída onde atualmente é a administração do cemitério. Hoje, o espaço antes ocupado pela capela deu lugar a um largo, formado por floreiras e onde está localizada a pedra fundamental, de 1854.

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Diferentes abordagens para o mesmo espaço

A singularidade do Cemitério Municipal São Francisco de Paula não está apenas nas personalidades que ali foram sepultadas. Cada cemitério traz em suas construções características da cidade e da cultura local.

As tipologias de suas construções e os materiais empregados, também fazem com que esse espaço tenha características diferentes dos demais cemitérios brasileiros.

Os estilos arquitetônicos foram estudados e classificados em tipologias pelo arquiteto Fábio Domingos Batista, habilitando o leitor a compreender as principais mudanças ocorridas na arquitetura tumular ao longo dos 160 anos de existência do cemitério.

Já a geodiversidade, pesquisada pelo geólogo Antonio Liccardo, resgata na identificação de materiais geológicos, como mármores, granitos e rochas importadas, os diferentes usos e modismos que a cantaria teve ao longo do tempo.

A arte tumular, repleta de símbolos, também é resgatada e explorada em seus mais diversos significados. As pesquisas biográficas contaram com o apoio de Mônica Helena Harrich Silva Goulart, enquanto os croquis foram desenhados por Luciano Suski.

Diferentes abordagens para o mesmo espaço
Trajeto

Mais importante do que escolher caminhos é descobrir novos horizontes.

Navegue pelo menu de trajetos acima e conheça algumas das personalidades
sepultadas no Cemitério Municipal São Francisco de Paula..

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André de Barros

Um santo homem.

André Pinto de Barros foi um enfermeiro e farmacêutico que serviu ao Exército no período da Guerra do Paraguai, quando foi transferido para Curitiba.

Nessa época, ele começou a atuar na Enfermaria de Circunscrição Militar, órgão que daria origem ao Hospital Militar.

Embora fosse um homem taciturno e de olhar triste, sua bondade era conhecida por todos. Foi Provedor da Santa Casa de Curitiba entre 1920 a 1922, período em que desenvolveu vários tipos de melhorias como a instalação de um laboratório de análises clínicas.

Ao falecer, em 12 de janeiro de 1923, deixou boa parte de seus bens para a Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, que foi beneficiada com a renda de diversos imóveis, além da quantia que foi destinada a construção de um novo pavilhão. Beneficiou também amigos, sua empregada (que herdou sua casa) e diversas outras instituições dedicadas aos necessitados.

André de Barros
André de Barros
A arte de renascer para outra vida.

Apesar de André de Barros ter pedido por um funeral simples, a Mesa Diretora da Santa Casa relegou ao escultor João Turin a tarefa de planejar seu túmulo. O resultado foi um verdadeiro monumento. A volumetria lembra um jazigo capela, com linhas retas, possuindo o escalonamento característico do art déco.

A composição de linhas retas e leves curvas conferem elegância e simplicidade ao conjunto, que não possui espaço interno aparente, lembrando um monolito esculpido em pedra. O escalonamento intencionalmente amplia a altura da edificação, conferindo a monumentalidade desejada.

O coroamento é em laje plana de planta quadrada, e no eixo desta destaca-se uma pequena cruz também em pedra, lembrando também o caráter sacro da edificação.

Turin também esculpiu um busto do enfermeiro, cuja réplica encontra-se na entrada do Hospital da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. Nele consta a inscrição em latim Pauperi nome tuum benedicunt, que em tradução livre significa Os pobres abençoam seu nome. Uma justa homenagem a um homem que se dedicou à caridade e aos necessitados.

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José Hauer

Um homem de negócios.

José Hauer Junior nasceu em 17 de agosto de 1882, filho do casal imigrante alemão José Hauer Senior e de Therese Weiser. Casou-se com Guilhermina Leitner, com quem teve dois filhos.

Iniciou suas atividades comerciais com o pai na José Hauer & Filhos. Um dos negócios que a família manteve foi a Empresa de Eletricidade Curitiba, responsável pela energia elétrica na cidade, até então fornecida por São Paulo. A empresa realizou a construção da Usina Térmica Curitiba, tornando-se a concessionária dos serviços de iluminação do município. Ele também foi proprietário da Casa Metal.

Faleceu em São Paulo, no dia 22 de junho de 1941.

José Hauer
A construção de uma memória eterna.

O Jazigo Monumento da família de José Hauer é um dos exemplares de maior monumentalidade e singularidade do cemitério. Trata-se de um portal de grande altura com referências ecléticas. E formado por um grande arco inserido em um volume cilíndrico, coroado por uma cúpula, em cujo topo encontra-se a imagem de Cristo Ressuscitado.

Internamente, a cúpula possui uma pintura azul com estrelas figurando uma representação do céu.

Em suas duas laterais há grandes janelas simétricas com ganchos para receber coroas. Localizada exatamente em frente à entrada do portal, está o tampo de ferro em formato convexo, com uma cruz pintada ao centro, que dá acesso à área de enterramentos realizados no subsolo.

O conjunto é delimitado por uma mureta executada em pequenos arcos, preenchida por grades de ferro onde estão representadas as virtudes fé, esperança e caridade por meio das imagens da chama, da âncora e do coração. As grades do portão de acesso ao tumulo e da parte dos fundos, que delimita o portal, também trazem os mesmos elementos, acrescentando a presença da flor-de-lis, símbolo da Santíssima Trindade.

Além da beleza arquitetônica e imponência, o portal simboliza um local de passagem entre os estados de luz e trevas, vida e morte e é uma abertura para o mistério. Nas tradições cristãs, é através da passagem pela porta que se tem acesso à revelação.

A escultura no topo do portal representa Cristo segurando a cruz em sua mão direita, enquanto eleva sua mão esquerda. Ele vem acolher os peregrinos e fiéis, pois Ele próprio é, de acordo com o mistério da Redenção, a porta pela qual se chega ao Reino de Deus.

José Hauer
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Barão do Cerro Azul Ildefonso Pereira Correira

O herói nacional.

Ildefonso Pereira Correia, mais conhecido como Barão do Serro Azul, nasceu em Paranaguá, no dia 6 de agosto de 1849. Realizou estudos de Humanidades em São Paulo e Rio de Janeiro e iniciou suas atividades empresariais em 1874, estabelecendo um engenho de erva-mate em Antonina.

Já em 1878, montou outro engenho em Curitiba, além de uma serraria a vapor em Piraquara. Por tudo isso, pode ser considerado um dos maiores empresários do Paraná no período do final do Império e início da República.

Foi um dos fundadores do Clube Curitibano (1882) e da Associação Comercial do Paraná (1890). Em 1881, recebeu a Comenda da Ordem da Rosa e no dia 8 de agosto de 1888 foi congratulado com o título de Barão do Serro Azul. Também teve forte presença na política, chegando a ser inclusive Presidente da Câmara de Curitiba.

Restabelecida a legalidade, foi feito prisioneiro com outros companheiros.

Até que no dia 20 de maio de 1894, ele encarou seu destino.

Barão do Cerro Azul

A caminho do que seria um embarque para julgamento no Rio de Janeiro, foi fuzilado no Pico do Diabo, no km 65 da Estrada de Ferro Paranaguá-Curitiba. Seu corpo foi resgatado por conta de um pedido de sua esposa ao ex-sócio David Carneiro, que contratou um grupo de homens para encontrar seus restos mortais para que fossem enterrados no Cemitério Municipal de Curitiba.

Graças ao projeto de Lei 354, a Lei 11.863 de 2008 foi sancionada e, em 15 de dezembro de 2008, ele foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, devidamente depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília. Sua sepultura possui uma estela como elemento central, cercada por gradil de metal.

Algumas pedras fazem parte do caminho.

Excepcional exemplo de mármore paranaense, possivelmente de Itaiacoca ou vale do Ribeira, o túmulo do Barão do Serro Azul trata-se de um monobloco esculpido, complementado pela cruz. Sua forma remete a um calvário composto de pedras e flores e encimado pela cruz rústica. Ao centro, o monograma BSA remete ao título de Barão e traz a data de seu assassinato.

Barão do Cerro Azul
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Alfredo Andersen

O pai da pintura paranaense.

Alfred Emil Andersen nasceu no dia 3 novembro de 1860 na cidade de Cristianssand, na Noruega. Filho do capitão da marinha mercante Tobias e de Hanna Carina Andersen, seus estudos foram realizados em ateliês particulares na Noruega e na Dinamarca, na Real Academia de Belas Artes em Copenhagen. Estudou com artistas de destaque como Wilhelm Krogh e Carl A. Andersen. Entre 1880 e 1890, atuou como pintor, realizando mostras individuais em Oslo e Copenhagen.

Também foi professor de pintura, cenógrafo e jornalista. Após um longo período de viagens pela Europa e América, Andersen desembarcou em 1892 na cidade de Paranaguá. Durante dez anos viveu da produção de retratos encomendados e decorações cênicas para residências.

Nesse período, conheceu e se casou com Anna de Oliveira e logo depois se mudou para Curitiba. Na cidade, montou um ateliê e retomou suas atividades profissionais, realizando exposições individuais, participando de mostras coletivas e ensinando desenho e pintura. A partir de 1910, passou a lecionar na Escola Alemã, no Colégio Paranaense e na Escola de Belas Artes e Indústrias.

Alfredo Andersen

Com o passar dos anos, seu trabalho tornou-se conhecido e reconhecido por parte da elite política e empresarial.

Dentre as obras de Andersen, são vários os quadros que retratam a elite paranaense, principalmente as figuras políticas mais importantes do Estado. No ano de 1915, mudou seu ateliê para a Rua Mateus Leme, local onde hoje se encontra o Museu Alfredo Andersen. Aos 71 anos de idade, em 1931, recebeu o título de “Cidadão Honorário de Curitiba”.

Faleceu em 9 de agosto de 1935.

A beleza de ser eternizado.

Sua sepultura tem base formada por duas carneiras dispostas verticalmente. A cabeceira, também em granito, é discreta, levemente inclinada, tendo como elementos compositivos principais a cruz em mármore branco ao lado da qual está o relevo esculpido por João Turin.

Na cabeceira da sepultura confeccionada em Sienito Tunas, ao lado da cruz em mármore, um relevo em bronze também assinado pelo amigo e escultor Joao Turin traz o perfil do homem que foi considerado “pai da pintura paranaense”.

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Emiliano Pernetta

O Príncipe dos Poetas Paranaenses.

Emiliano David Pernetta nasceu em Pinhais, no dia 3 de janeiro de 1866. O sobrenome Pernetta foi adotado por seu pai, que por andar de um jeito estranho, acabou ganhando o apelido de “perneta”.

Desde adolescente era conhecedor de vários escritores como Casimiro de Abreu e Castro Alves. A partir dos 17 anos, iniciou a publicação de suas primeiras poesias nos jornais O Dilúculo, Dezenove de Dezembro e Vida Literária. Em 1885, foi para São Paulo realizar o curso de Direito, onde conviveu com vários intelectuais e futuros políticos, como Jose do Patrocínio, Saldanha Marinho, Raul Pompeia, Olavo Bilac, Júlio Prestes e Ermelino de Leão.

Como morava em uma pensão, seu quarto era o local de reuniões onde variavam assuntos de literatura, política e ciência. Em suas viagens para Curitiba acabou influenciando e estimulando a leitura de Baudelaire aos seus colegas. Em 1888, realizou conferências no Clube Curitibano sobre abolicionismo e também iniciou suas publicações no jornal A Republica.

Emiliano Pernetta

Por ser considerado figura de grande destaque em sua geração, sua liderança em relação aos poetas “novos” fez sentir-se não só no Paraná como também em outros estados. Em 1889, após formar-se em Direito, seguiu para o Rio de Janeiro, lançando-se no jornalismo. Ainda em 1895, passou a colaborar para os jornais Ganganelli, Diário Popular e Folha de São Paulo.

Representante do Simbolismo no Paraná, passou a ser chamado de “Príncipe dos Poetas Paranaenses”. Publicou inúmeras obras: Músicas (1888), Ilusão (1911), O Inimigo (1899), Floriano (1902), Alegoria (1903), Oração da Estátua de Marechal Floriano (1904), Pena de Talião (1914), Setembro (1934), entre outras.

Colaborou em várias revistas como Cidade do Rio, Novidades, Revista Ilustrada, Clube Curitibano, O Sapo, Pallium, Breviario, Victrix, Stellario, Souza Cruz, entre outras. Membro da Academia Brasileira de Letras, no ano de 1912 participou da fundação do Centro de Letras do Paraná.

Faleceu no dia 19 de janeiro de 1921, vítima de uma sincope cardíaca.

O simbolismo de uma figura eterna.

A sepultura, onde descansam os restos mortais de Emiliano e de sua mãe Christina, é formada por linhas retas, tendo como elemento compositivo a aplicação de placas de mármore Itaiacoca e mármore branco importado. Na cabeceira inclinada, um epitáfio traz a quadra composta por Emiliano para sua mãe, sob o título Epitaphio se lê: “Aqui, debaixo desta fria lousa, Aqui, ó minha mai junto do teu, O meu ferido coração repousa, Mudo e gelado, como quem morreu”.

Também adornam o tumulo placas de homenagem de seus coestaduanos e do Centro de Letras do Paraná.

Emiliano Pernetta
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Nhô Belarmino e Nhá Gabriela

Aqui jaz a música caipira de raiz.

Júlia Alves Graciano nasceu na cidade de Curitiba, em 28 de julho de 1923. Mas foi em 1937, durante um ensaio na Radio Guairaca, que sua trajetória de vida começou a mudar. Ali conheceu o músico Salvador Graciano, o Nhô Belarmino, com quem se casou em dezembro de 1939. Iniciava-se uma história de parceria na musica e no amor que duraria 45 anos e renderia três filhos.

Salvador nasceu num lugarejo chamado Sanitária, pertencente a Rio Branco do Sul, próximo a Curitiba, no dia 4 de novembro de 1920. Na infância, já se afeiçoou à música. Gostava de contar anedotas, cantar e tocar viola e gaita para seus vizinhos. Sua carreira começou junto da irmã Pascoalina, a Nhá Quitéria, com quem se apresentou durante quatro anos. Após casar-se, Pascoalina desistiu da carreira.

Nhô Belarmino e Nhá Gabriela

Mas foi o acaso que trouxe Julia para a dupla. Diante de uma apresentação com casa lotada e atraso dos músicos que acompanhariam Salvador, Julia arriscou e cantou com o marido a música Cavalo Zaino. O sucesso foi tamanho que a dupla foi chamada para diversas apresentações. Nascia ali Nhá Gabriela, nome dado em homenagem à tia de Salvador.

Os shows e programas em rádios fizeram deles a dupla caipira de raiz mais conhecida de Curitiba e do Paraná. O casal também fez sucesso em outros lugares do Brasil, participando de programas de rádio no Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1953, ocorreu a gravação do primeiro disco da dupla, mas foi em 1959, com a música As Mocinhas da Cidade, que o sucesso se consolidou.

No silêncio discreto da eternidade.

Na sepultura da dupla caipira, o que restou foi a lembrança. Alvo de vândalos e ladrões, a viola, símbolo do matuto e da música caipira de raiz, já não se encontra mais lá. Entre os dois pilares da cabeceira, uma placa inclinada trazia o epitáfio com os nomes de Júlia Alves Graciano e Salvador Graciano, mas era a viola que remetia à memorável dupla caipira Nhô Belarmino e Nhá Gabriela, como ficaram conhecidos.

Com o roubo e os danos causados, o elemento compositivo que singularizava a sepultura se perdeu.

Nhô Belarmino e Nhá Gabriela
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Ney Braga

O primeiro prefeito de Curitiba a ser eleito pelo voto direto.

Ney Amintas de Barros Braga nasceu na cidade da Lapa, em 25 de julho de 1917, filho de Antônio Lacerda Braga e de Semíramis de Barros Braga (filha de Amintas de Barros, herói da resistência da Lapa). Realizou seus estudos na Lapa e em Curitiba. Posteriormente, foi para o Rio de Janeiro, onde cursou a Escola Militar do Realengo, formando-se como Aspirante de Oficial da Arma de Artilharia no ano de 1937. Serviu nos Estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná.

Em 1938, com 22 anos de idade, casou-se com Maria José Munhoz da Rocha, que viria a falecer precocemente em 1944, deixando quatro filhos. Foi promovido a Tenente e Capitão ao participar de guarnições no Paraná, em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Em 1948, formou-se na escola de Comando e Estado-Maior do exército, sendo novamente promovido, desta vez a Major, em 1950.

Nesse intervalo de tempo, casou-se com Nice Camargo Riesemberg, com quem teve mais três filhas.

Nhô Belarmino e Nhá Gabriela

Entre os anos de 1952 a 1954, ocupou a Chefia de Polícia do Estado do Paraná. Sua trajetória política teve início em 1954, quando se elegeu Prefeito de Curitiba, o primeiro administrador da Capital a ser eleito pelo voto direto. Sua administração foi marcada pelas reformas urbanas na área dos transportes coletivos, instituição da primeira Comissão de Cultura, instalação de bibliotecas na periferia, ações de segurança e abastecimento, com severa austeridade nos gastos públicos.

Em 1959, foi eleito Deputado Federal com o maior número de votação individual, 33% na capital. Apesar de permanecer por pouco tempo no cargo, abordou temas importantes como a posse da terra no oeste e sudoeste do estado. No ano seguinte, elegeu-se como Governador (1961-1965) pelo Partido Democrático Cristão, sendo seu primeiro mandato marcado pela criação de órgãos públicos, como a Companhia de Desenvolvimento do Paraná, a Fundação de Desenvolvimento Educacional do Paraná, a Companhia de Informática do Paraná e a Café do Paraná. Foi ele, também, quem trouxe a Refinaria Getúlio Vargas para a cidade de Araucária.

Faleceu em Curitiba, aos 83 anos, no dia 6 de outubro de 2000.

Na democracia dos céus.

A sepultura da família é confeccionada em placas de granito Rosa Curitiba, sendo composta por embasamento em lajotas apicoadas, tampo de acesso à área de inumações e cabeceira. Junto desta, encontram-se os epitáfios e uma cruz em bronze.

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Florian Essenfelder

Uma sonora contribuição histórica.

Florian Essenfelder nasceu em 7 de novembro de 1855, na cidade de Friedland, Alemanha. Tornou-se mestre de instrumentos musicais na famosa fábrica alemã C. Bechstein, em Berlim.

Casou-se com Maria Wilhelmina Amelie Jacomowski em novembro de 1885, com quem teve os filhos Carlota e Floriano. Em 1889, migrou com sua família para Buenos Aires, onde tinha um emprego garantido na empresa Drangosh, representante da Bechstein.

Permaneceu por um ano nesse trabalho até que decidiu se dedicar à construção de seu primeiro piano. Nascia a Fábrica de Pianos Essenfelder, que em 1898 ganhou o Grand Prix de Buenos Aires. Nesse período, nasceram os filhos Frederico, Carlos, Ernesto e Margarida. Sua esposa adoeceu e faleceu em 1899.

Florian Essenfelder

Com a falta de capital e matéria-prima escassa, mudou-se em 1902 para Porto Alegre, onde permaneceu por dois anos. Em seguida, foi para Pelotas, mas ainda tinha dificuldade em encontrar a madeira ideal e capital de investimento. Nesse período, passou a ensinar os filhos Floriano e Frederico a arte da fabricação de pianos.

Em 1908, ganhou a medalha de ouro na Exposição Nacional. Mas a situação de investimento de capital ainda não era a ideal. Sabendo da abundância de madeira no Paraná, decidiu mudar-se com sua família para Curitiba em 1911. A fábrica foi instalada no bairro Alto da Glória.

Floriano ficou conhecido ao executar a primeira hélice em madeira no Brasil, quando um avião pilotado por Cícero Marques, em 1916, teve sua hélice quebrada durante manobras. Esse fato rendeu a Floriano a medalha de Mérito Santos Dumont, oferecida pelo governo.

No silêncio de uma memória.

A sepultura da família foi executada em placas de granito Rosa Curitiba. A base, por sua vez, formada por placas implantadas simetricamente. A cabeceira em arco possui grande dimensão, destacando-se no conjunto. Ao centro foi inserida cruz em bronze, elemento focal do conjunto, com o relevo em bronze executado por Peón, em meio arco, trazendo a efígie de Florian.

No relevo consta o piano de cauda à esquerda e elementos relativos à sua fabricação na direita, como o martelo, o compasso e o caduceu, que remete à administração do negócio.

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Maria Bueno

Do desconhecimento ao status de milagreira

Maria da Conceição Bueno nasceu no Rio da Prata, região próxima a Morretes, em 8 de dezembro de 1864. Quando seu pai, um sitiante pobre, desapareceu durante a Guerra do Paraguai, mudou-se com sua mãe para a Capela de Tamanduá, na região de Campo Largo. Anos depois, após a morte de sua mãe, Maria Bueno, então com seis anos de idade, passou a viver com sua irmã Maria Rosa.

Na madrugada do dia 29 de janeiro de 1893, ela foi encontrada morta em um terreno da rua Campos Gerais, atual Rua Vicente Machado. O jornal A República noticiou o fato apontando que a necropsia realizada indicou a causa da morte como uma quase decapitação.

A matéria indicava que o chefe de polícia já procedia ao devido inquérito e apontava como suposto autor do crime o soldado do 8º Regimento de Cavalaria Ignácio José Diniz que, na noite do crime, estava de guarda e havia fugido à meia-noite, só retornado às 4 horas da madrugada.

Maria Bueno

O jornal Diário do Comércio noticiou o crime, falando que Maria Bueno, uma mulher parda, “dessas mulheres de vida alegre, mas inofensiva” teria sido vítima de uma decapitação completa e que apresentava cortes profundos em suas mãos, ferimentos de defesa de uma “tremenda luta com o assassino”.

Em julho do mesmo ano, o jornal A República noticiou o julgamento de Diniz, absolvido por 11 votos a 1 do crime de assassinato. Mas a falta de unanimidade entre os jurados e o apelo da promotoria manteve Diniz preso.

Maria Bueno Túmulo digno de uma milagreira.

O Jazigo Monumento de Maria Bueno é um dos exemplares mais interessantes do cemitério. Suas linhas arquitetônicas são simples e pouco elaboradas. Trata-se de um grande oratório provavelmente de concreto, com as quatro faces em vidro. O oratório guarda a imagem de Maria Bueno. Representada em pé, segurando um lírio junto ao corpo, a estátua tem cabelos curtos, vestes longas azuis e pele clara.

Sua base é escalonada com cerca de quatro degraus. Na face frontal encontram-se esculturas de anjos. A capela está semienterrada, sendo acessada por escada implantada no passeio. Nas faces do jazigo monumento e do muro frontal a ele encontram-se placas de agradecimento.

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Enedina Alves Marques

A primeira mulher negra engenheira do Brasil.

Enedina Alves Marques nasceu em Curitiba, no dia 5 de janeiro de 1913. Seus pais, de origem humilde, vieram para Curitiba em busca de melhores condições de vida. Sua mãe trabalhava como doméstica e lavadeira para auxiliar na renda da família.

Quando seus pais se separaram, Dona Duca, como sua mãe era conhecida, foi junto de alguns de seus filhos, entre eles Enedina, trabalhar e morar na casa de uma família. Sua adolescência foi dividida entre trabalho doméstico em casas de famílias durante o dia e estudos, iniciados aos 12 anos, sempre no período da noite. Em 1926, ingressou na Escola Normal Secundaria, onde se diplomou normalista em 1931.

Enedina Alves Marques

Em 1940, iniciou sua trajetória acadêmica, que culminaria em 1945, aos 32 anos, com sua formatura na Universidade do Paraná. Enfrentou preconceitos, reprovações, dificuldades financeiras, mas venceu.

Tornou-se a primeira mulher negra engenheira do sul do Brasil, e muito provavelmente, do país.

Enedina ocupou vários cargos significativos, entre eles o de funcionária da Secretaria de Obras Públicas como engenheira fiscal. Participou do levantamento topográfico da Usina Capivari Cachoeira, além de participar da construção da Usina Parigot de Souza.

Faleceu no dia 20 de agosto de 1981.

Um exemplo de vida eternizado.

Sua sepultura, em alvenaria com revestimento em chapas finas de sienito Tunas, procedente do Paraná, é formada pela sobreposição de três carneiras.

Enedina Alves Marques
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Esse é apenas o início.

Por sua importância histórica, os cemitérios integram parte do patrimônio cultural brasileiro e alguns já são reconhecidos como bens valorados em diferentes localidades, por meio de ações de preservação. Mas, para valorizarmos esse patrimônio como ele merece, precisamos conhecê-lo.

E, para isso, o Guia de Visitação ao Cemitério Municipal São Francisco de Paula foi feito.

Com um olhar multidisciplinar, abrangendo áreas como a História, Arquitetura, Geologia e Arte Tumular, o livro evidencia toda a potencialidade do Cemitério Municipal enquanto patrimônio histórico, artístico e cultural para a cidade de Curitiba. E conta a história de personagens marcantes da capital paranaense, dando sugestões de percursos que podem ser seguidos ou adaptados conforme a curiosidade e o desejo de cada um.

Guia de Visitação ao Cemitério Municial São Francisco de Paula - Arte e memória no espaço urbano: Clarissa Grassi Autora

A autora

Clarissa Grassi.
Presidente da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais, é mestranda em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná. Possui especialização em Marketing pela FAE Business School e graduação em Relações Públicas pela Universidade Federal do Paraná. Dedica-se aos estudos cemiteriais há 11 anos. Integra os grupos de pesquisa do CNPq Imagens da Morte: a morte e o morrer no mundo Ibero-Americano (UNIRIO), coordenado por Claudia Rodrigues, e Grupo de Estudos Imagem e Conhecimento (UFPR), coordenado por Ana Luisa Fayet Sallas e Angelo José da Silva

Veja tudo isso com seus próprios olhos.
Clarissa Grassi também faz visitadas mensais guiadas. Para mais informações e agendamentos, escreva para visitaguiada@smma.curitiba.pr.gov.br

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